5 de mai. de 2010

Mais antigo ancestral do homem é descoberto na África do Sul


Photograph courtesy Brett Eloff and Lee Berger
O Australopithecus Sediba foi encontrado em Malapa, África do Sul.

Um cientista da universidade de Witwatersrand, na África do Sul, anunciou ter descoberto fósseis de duas criaturas hominídeas com mais de dois milhões de anos, que poderiam ser o elo entre espécies mais antigas e as mais modernas, conhecidas como homo, entre as quais está a de pessoas atuais.

Lee Berger afirmou à BBC que a descoberta, nas cavernas de Malapa, perto de Joanesburgo, foi feita por acaso em 2008, quando ele e o filho de 9 anos passeavam no local, identificado como um potencial sítio arqueológico graças a uma aplicativo do Patrimônio Histórico Mundial acoplado ao programa Google Earth.

Fragmentos do fóssil encontrado na África do Sul.

A descoberta do Australopithecus Sediba foi publicada na última edição da revista científica Science, e os cientistas que assinam o artigo dizem que os esqueletos preenchem uma brecha importante no desenvolvimento das espécies hominídeas.

"Eles estão no ponto em que acontece a transição de um primata que anda sobre duas pernas para, efetivamente, nós", disse Berger.

"Acho que provavelmente todos estão conscientes de que este período, entre 1,8 milhão a 2 milhões de anos atrás, é um dos mais mal representados em toda a história fóssil dos hominídeos. Estamos falando de um registro muito pequeno, um fragmento."

Photograph by Marion Kaplan, Alamy
Sepultamento rápido:
Muitos cientistas veem os australopitecos como ancestrais diretos do Homo, mas a localização exata do australopitecos Sediba na árvore genealógica humana vem causando polêmica. Alguns acreditam que os fósseis podem ter sido da espécie Homo.

O que se sabe é que estas criaturas da Malapa viveram às vésperas do domínio da espécie Homo; Inclusive, alguns esqueletos encontrados na África Orienta,l que se atribuem a espécies de Homo seriam até um pouco mais antigos que as novas descobertas.

Mas o A. Sediba apresenta uma mistura de detalhes e características, como dentes pequenos, nariz proeminente, pélvis muito avançada e pernas longas, semelhantes às que temos atualmente. No entanto, a espécie tinha braços muito longos e um crânio pequeno que lembra os da espécie australopitecus, muito mais antiga, à qual Berger e seus colegas associaram a descoberta.


Os ossos foram encontrados a cerca de um metro uns dos outros, o que indicaria que eles morreram na mesma época ou pouco tempo depois do outro.

Os especialistas dizem que os fósseis podem até ser de mãe e filho e que é razoável presumir que pertenciam ao mesmo bando.

Não se sabe se eles moravam no complexo de cavernas em Malapa ou se acabaram presos por ali, depois que terem sido arrastados para um lago ou piscina subterrâneos, talvez durante uma tempestade.


Os ossos dos dois espécimes foram depositados perto de outros animais mortos, entre eles um tigre dente-de-sabre, um antílope, ratos e coelhos. O fato de nenhum dos corpos terem sinais de terem sido comidos por outros animais, indicam que morreram e foram sepultados repentinamente.

"Achamos que deve ter havido algum tipo de calamidade na época, que tenha reunido todos esses espécimes na caverna, onde ficaram presos e, finalmente sepultados", afirmou o professor Paul Dirks, da universidade James Cook, na Austrália.

Todos os ossos ficaram preservados em sedimentos clásticos calcificados que se formam no fundo de poças d'água.


Photograph courtesy Paul Dirk.

Nosso novo ancestral africano:
Se existe um Eldorado para os antropólogos que estudam a evolução humana, ele fica na África do Sul, a apenas 45 minutos de carro de Johannesburgo. Foi lá, num parque onde ficam as 130 cavernas de Malapa, que pesquisadores encontraram um terço de todos os fósseis de hominíneos (o nome da família que inclui o homem, nossos antepassados e parentes) descobertos desde os anos 30. 

Não é à toa que o local, um patrimônio universal da Unesco, é conhecido como Berço da Humanidade. Agora imagine a alegria de um explorador que descobrisse não uma nova mina, mas um terreno repleto delas, um segundo Eldorado. Foi o que aconteceu com o antropólogo Lee Berger, da Universidade de Witwatersrand, em Johannesburgo.

Durante todo o mês de julho de 2008, ele navegou no site Google Earth, observando imagens de satélite com a ajuda do geólogo Paul Dirks. Os dois detectaram indícios de quase 500 cavernas no mesmo parque. No mês seguinte, Berger foi fazer uma primeira visita. Bastou descer do jipe para ver uma cavidade no solo e descobrir um rico sítio fossilífero.

O resultado dessas primeiras explorações foi divulgado na semana passada pela revista científica Science: os fósseis de um garoto, que tinha entre 9 e 13 anos, e de uma mulher de uns 30 anos, mortos há 2 milhões de anos. Segundo Berger e Dirks, eles pertenciam a uma espécie até hoje desconhecida da linhagem humana, a Australopithecus Sedeba (Australopithecus significa macaco do sul da África, e Sedeba quer dizer fonte, no dialeto da tribo local, os Sothos).

Photograph by Shaen Adey, Gallo Images, Corbis.

Essa pode ser uma das peças que faltam no quebra-cabeça da linhagem humana. "A nova espécie partilha várias características com as primeiras espécies do gênero Homo, como o formato da bacia e do crânio", diz Berger. Eles andavam eretos, tinham pernas longas e mãos parecidas com as nossas. Apesar do cérebro pequeno, o formato do crânio também aponta em nossa direção. O fato de seus braços serem muito longos, lembram os de chimpanzés e gorilas. "O sedeba é um ancestral direto do gênero Homo", diz Berger. "Neste momento estamos fazendo a reconstituição facial. Já encontramos outros dois exemplares. Ainda há muito estudo e descoberta à frente".

A exploração das novas cavernas da Malapa deverá enriquecer – e complicar – o ramo da paleoantropologia. Embora Charles Darwin tenha previsto em 1871 que os fósseis de ancestrais humanos deveriam ser procurados na África (por causa de nossa semelhança anatômica com chimpanzés e gorilas, que vivem lá), só em 1925 foi encontrado nosso primeiro ancestral africano. Era o Australopithecus africanus, de 2,5 milhões de anos.

Nos 50 anos seguintes, surgiram meia dúzia de espécies, tanto na África do Sul quanto no Vale do Rift, entre a Etiópia, o Quênia e a Tanzânia. A mais antiga e mais famosa é Lucy, de 3,4 milhões de anos, a fêmea de Australopithecus Afarensis revelada em 1974. Grande parte dessas descobertas mostram que, durante milhões de anos, haviam diversas espécies humanas no planeta. Somos a única que sobreviveu.

Berger e Dirks dizem ter certeza de que o sedeba faz parte da nossa linhagem. Se é assim, ele merece um nome, como Lucy (homenagem à canção dos Beatles "Lucy in the sky with diamonds"). Perguntei que nome seria esse, durante a teleconferência do anúncio da descoberta. Berger riu. "Desta vez, o apelido dos fósseis não sairá de um laboratório. Vamos fazer um concurso entre as crianças da África do Sul".

Revista Época








Fontes:

Editorial:
pesquisa, tradução e edição final:
Mariangela Ghirotti